Acreditar com força
Ontem o amante da Rosa Grilo, António Joaquim, passou de absolvido a condenado a 25 anos de prisão, ou seja, de inocente à pena mais agravada de um crime. O homem a pensar que se tinha safado e afinal saiu-lhe a carta "Vá directamente para a prisão, sem passar pela casa de partida". Tudo isto porque os juízes do Tribunal da Relação de Lisboa, sem haver prova directa, simplesmente acharam que ele esteve envolvido. SEM PROVAS DIRECTAS. E nem sou eu que digo, foram os próprios juízes no acórdão.
É incrível como uma das decisões mais graves na Justiça portuguesa dos últimos tempos passa assim na boa, sem se ver qualquer tipo de indignação. Como se fosse normal condenar-se alguém, porque se tem a convicção que determinada pessoa fez algo. Eu posso achar que ele esteve envolvido e que deveria apodrecer na prisão, mas é apenas a minha opinião, não sou juiz. Não vou enviar alguém para a cadeia só porque é o que eu acho. E olhem que eu acredito ter bastante bom senso na análise das pessoas.
Imaginem agora qualquer um de nós estar envolvido num caso sem ter feito nada e que, sem provas, um juiz nos condena, porque não gostou da nossa cara ou porque acreditou que nós tínhamos de ter estado envolvidos. «Bem... Diz aqui que o senhor estava noutro sítio quando o crime ocorreu, mas o senhor não tem provas disso. Nós também não temos provas que estava no local do crime também... mas o senhor tem mesmo cara de mata-velhas, portanto eu acredito com muita força que deve ter cometido o crime. Culpado!». É surreal.
Aquela história de que as pessoas são inocentes até se provar o contrário já é uma grande treta quando um caso aparece na comunicação social. Toda a gente vai fazer os seus juízos morais acerca do caso. Agora, serem os próprios juízes a mandar tudo isso às urtigas, nunca pensei.
É que se é para tomar decisões com base no que se acha, nem era preciso estarmos a formar juízes. Apanhávamos 3 pessoas aleatórias que vão a passar na rua e perguntávamos-lhes a opinião acerca dos casos. Isso ou veríamos o que dizem nos painéis da CMTV e também se resolveria logo. De certeza que a Justiça andaria muito mais depressa, só não sei se seria Justiça.