Ontem a noite eleitoral foi bastante longa. Umas autárquicas bem mais animadas do que o costume e com algumas surpresas.
Eu não vou destacar nenhum caso em específico, vou apenas fazer uma analogia do que se passou no geral com os principais partidos utilizando para isso uma coisa que a maioria de nós conhece, exames/testes na escola.
O PS é aquele aluno que acertou mais respostas no exame e que por isso acha que foi o melhor.
O PSD é aquele aluno que acertou na maioria das perguntas de cotação máxima e por isso também acha que foi o melhor.
A CDU é aquele aluno que estudou bastante, mas ficou abaixo das expectativas apesar de ter acertado algumas perguntas.
O CHEGA é aquele aluno que não estudou, foi para os copos na noite anterior, apareceu no exame de ressaca, começou a responder tudo ao calhas, falhou quase todas as perguntas, mas ainda assim acertou as suficientes para depois vir dizer "se tivesse estudado iam ver, limpava isto".
O BE é aquele aluno que estudou só parte da matéria na esperança que fosse isso a sair no exame, mas depois não saiu praticamente nada daquilo e espalha-se ao comprido.
O CDS-PP é aquele aluno que finge que estudou para o exame, mas na realidade acaba por copiar tudo do colega do lado, o que lhe dá o suficiente para passar.
O IL é aquele aluno que se inscreveu no exame só para ver como era, não sabe nada da matéria e falha as perguntas todas.
O PAN é aquele aluno que vai para o exame a pensar que domina aquilo, mas depois falha também as perguntas todas.
Qual é mesmo a altura boa para haver uma crise política?
É que pelo que António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa dizem, agora não é um desses momentos.
No entanto, se dizem que agora não é uma boa altura para haver uma crise política isso também significa que, aparentemente, há outras alturas boas para haver crises políticas.
É que, assim de repente, tirando a que aconteceu ali em meados de Abril de 1974, não me recordo de nenhuma outra altura boa para haver uma crise política. Não estou a ver algum português a pensar "Epá, este país está tão bom e não se passa nada, isto agora ia mesmo bem uma crise política. Só para animar um bocado. Ainda por cima não tenho nada planeado para os próximos meses.".
Uns apoiantes do CHEGA!, na última manifestação, utilizaram uma criança negra com um cartaz amarelo com a mensagem "sou adotada, angolana, meus pais são Chega" e uma bandeira do partido na mão. Comportamento totalmente errado e aproveitamento político óbvio.
Tudo podia ter ficado por aqui, mas não. Como estamos na época das redes sociais, muita gente, ao ver essa imagem, ficou tão indignada com este aproveitamento político que decidiu então fazer novo aproveitamento político para condenar o outro aproveitamento político. Como se existisse um aproveitamento político bom e um aproveitamento político mau na utilização de uma criança. Resultado, Comissão de Proteção de Crianças e Jovens envolvida.
Ironicamente nisto tudo, a criança foi trazida de Angola e afinal ainda não tem o processo de adopção concluído, ou seja, no pior dos casos, aqueles que tanto apregoam a luta contra o racismo em Portugal podem vir a ser os responsáveis por mandar a pobre criança "de volta para a sua terra".
Por outro lado, é estranho (para dizer o mínimo) que uma criança angolana tenha vindo para Portugal com alguém que, legalmente, não lhe é nada. Mais outra ironia, apoiantes do CHEGA! contribuirem para uma espécie de imigração ilegal.
Comentadores de política e políticos a fazerem aproveitamento político de eventos onde outros políticos foram para enviarem uma mensagem política. Nunca visto.
Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa disseram que a democracia não tinha sido suspensa com a pandemia. Esta é uma frase acertada, mas que abriu a porta a um conjunto de iniciativas partidárias e sociais que deveriam ficar para outras alturas sanitariamente mais calmas. Não falo sequer das comemorações do 25 de Abril e do 1 de Maio que, apesar de não concordar com a forma como foram realizadas, ainda dou de barato por serem datas especiais. Refiro-me sim às manifestações pós-desconfinamento.
Eu olho para os nossos partidos dos extremos e imagino-os como daquelas crianças mimadas, mal-educadas, que fazem birras a toda a hora para obrigarem os pais a fazerem o que elas querem. Tipo a filha da minha vizinha do lado… Mas isso já é outro assunto… voltando ao tema. Como miúdos mimados, para terem atenção, têm de fazer barulho, ou seja, manifestações. E têm de ser quando eles querem! Ai de quem os contrarie…
Começámos então com a manifestação contra o racismo, Black Lives Matter style, que serviu para o Bloco de Esquerda e a Joacine Katar Moreira se colarem a ela e surfarem na onda. Foi agradável voltar a ver a Joacine que andava desaparecida. Ouvi-la a vociferar, sem gaguejar, frases com um toquezinho racista numa manifestação antirracista é algo que enche o coração. Mas aparentemente só os caucasianos é que são racistas, deve ser uma forma de white privilege qualquer… Ora, como esta era uma manifestação com motivações bem intencionadas, Governo e DGS abençoaram-na, impedindo assim que o vírus se propagasse em quem nela participou.
Esta semana tivemos a manifestação da CGTP, apoiada pelo PCP, com cerca de 400 pessoas. A CGTP que já tinha sido tão bem vista no 1 de Maio, decidiu repetir a dose, logo no dia do anuncio das medidas restritivas para a zona de Lisboa e Vale do Tejo. Manifestantes a dizer que é só seguir algumas recomendações da DGS para prevenir contágio e que há os serviços médicos para fazerem o seu trabalho. Cereja no topo do bolo, a secretária-geral da CGTP, defendendo a manifestação, dizendo que não se pode confundir com eventos particulares, que aquele é um direito dos trabalhadores. O coronavírus é capitalista e não infecta camaradas comunistas.
Finalmente, ontem, tivemos a manifestação organizada pelo CHEGA contra a manifestação contra o racismo, mas que não é a favor do racismo. Devo confessar que em termos lógicos é uma equação complicada de perceber. Tem demasiadas negações.
André Ventura que sempre se colocou contra a realização de todas as manifestações anteriores achou por bem que esta é que se deveria realizar. Em termos lógicos, esta também é uma equação complicada de perceber, mas se há algo que podemos sempre contar é que André Ventura apregoe uma coisa e faça outra. Isto acaba por facilitar um bocado.
Logo no dia em que saiu um estudo europeu que diz que 62% dos portugueses manifestam comportamentos racistas, uma manifestação com o mote “Portugal não é racista”. Timing perfeito. Para estes manifestantes, Portugal é o único país no Mundo onde não há racismo. Deve ter havido algum decreto ou assim, como o que fizeram na Câmara Municipal de Lisboa, que limpou o racismo do país. Curiosamente, enquanto André Ventura proclamava que Portugal não é um país racista, dizia também que rejeitava sustentar minorias, minorias estas que querem continuar a não fazer nada. Elogiando de seguida polícias, professores, profissionais de saúde, motoristas de transportes públicos e empresários. Foi deveras educativo saber que estas profissões não contêm pessoas pertencentes a minorias. Nunca pensei.
Bem, o André Ventura lá fez o seu caminho pela Avenida da Liberdade abaixo, liderando a sua trupe de apoiantes, lado a lado com a sua fã número um, Maria Vieira, e com um manifestante negro à frente e sempre em destaque. Mais um sinal óbvio de que não podem ser racistas, porque até têm um amigo que é preto.
Chegado ao Terreiro do Paço, André Ventura agradeceu a todos que o acompanharam, por não o terem deixado caminhar sozinho. Não sei se ele é o único português que tem medo de descer a pé, a Avenida da Liberdade, num Sábado à tarde, sozinho ou se foram resquícios da vitória do Liverpool no campeonato que fizeram dizer aquilo. Ficou a dúvida.
Portanto, partidos políticos, por favor, deixem todas estas manifestações que a maioria dos portugueses não quer saber para nada para daqui a uns meses. Esperem que a taxa de infeção pelo coronabicho fique mais baixa e depois, aí sim, realizem todas as manifestações patetas que vos der na telha. Isso sim, os portugueses agradeciam.
Isto já parece aquelas mulheres vítimas de violência doméstica que acreditam que a culpa de apanharem é delas, mas que se portarem bem o companheiro não as vai agredir mais.
A Ministra da Saúde está numa relação abusiva com o Primeiro-Ministro e não se está a dar conta disso. Os sinais estão lá e todos sabemos como estas situações terminam sempre. Ou ela pede demissão do cargo e consegue fugir ou então o Primeiro-Ministro mata-a politicamente.
O que é que se passa com o PAN para agora ter uma data de saídas por divergências políticas?
É difícil perceber como é que há divergências políticas no PAN, até porque não se sabe quais são as políticas do partido, quanto mais saber o que se pode ter divergências. No entanto, aposto que a haver divergências políticas na trindade Pessoas-Animais-Natureza só podem ser nas Pessoas. Provavelmente alguém deve ter pedido um bitoque no último jantar do partido ou assim.
Bem, só têm de ter cuidado, porque se continuam a este ritmo daqui a pouco tempo passa a ser apenas AN.
Muita gente anda por aí a dizer e a gozar que o André Ventura falou que política e futebol não se devem misturar. O que está totalmente errado. Ele disse algo muito melhor. Ele disse: «É lamentável que um jogador da seleção nacional se envolva em política.»
Ou seja, o André Ventura discrimina até nos jogadores de futebol. Para ele qualquer jogador tem o direito de expressar a sua opinião, até ao momento em que é convocado para a seleção nacional.
Para o André Ventura, a pessoa que dita quais os jogadores que podem ou não envolver-se em política é o Fernando Santos.