Faz uma semana que a Rússia reconheceu unilateralmente a independência das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk e com isso iniciou-se a invasão da Ucrânia.
Em resposta Joe Biden ia-se preparar para também reconhecer a independência da Chechénia, pensando que se estava a falar dele próprio, mas os seus consultores conseguiram-no impedir a tempo de que tal acontecesse.
Podem dizer o que quiserem, mas a mim ninguém tira da ideia que esta invasão está relacionada com a ida do Jair Bolsonaro à Rússia. Ele deve ter dado uma camisola da selecção brasileira ao Putin e ele pensou que se tratava de uma da Ucrânia e que aquilo era tudo uma provocação. É o que eu acho.
Mal começou a invasão julgo que todos nós pensámos mais ou menos o mesmo - vem aí a III Guerra Mundial. Era bom saber qual a distância que temos de estar para sobrevivermos a uma bomba nuclear. Se cair até Madrid estamos bem? Bem, mas temos de ver as coisas com um lado positivo, uma Guerra Mundial é má agora, mas, se sobrevivermos ao Inverno Nuclear, vai dar excelentes filmes no futuro.
O Putin decidiu retomar as reconquistas do que foi o Império Russo e a União Soviética. Então agora não dizem todos que o Mundo não tem fronteiras e tal? Bem, foi isso que o Putin também decidiu levar muito a sério. Bem que podia ter começado pelo Alasca e deixava a Europa em paz, é a minha opinião. É que isto começa na Ucrânia, mas desenganem-se quem pensa que ele ficaria por aí. Iam ver quando ele decidisse recuperar o Alentejo e a Margem Sul... Almada era logo a primeira.
Ora, esta conversa leva-nos à forma como determinados partidos se colocaram em todo este processo. Falo mais em concreto do Bloco de Esquerda e do PCP. O BE teve ali uma posição que saltou entre a crítica à NATO e aos EUA para ir na onda da crítica à Rússia, assim que houve a invasão e a grande maioria das pessoas se colocou do lado da Ucrânia. Mas mais vale tarde do que nunca.
Já o PCP... O PCP começou com uma desculpabilização da invasão russa e passou para um full All Lives Matter nesta questão da Rússia e Ucrânia. Ora, ninguém quer ouvir isso quando um país está a ser invadido. Pior, alguns membros do PCP tiveram umas declarações mesmo rasteirinhas para momentos como este. Isto está de tal forma que eu já nem sei se eles estão mesmo a falar a sério nesta questão ou se é para o meme comunista. Por vezes é surreal. Parece que a Ucrânia é que tem de parar com este acto de agressão e confrontação com a Rússia que consiste em estar a levar com bombas.
Entretanto, durante esta semana, todo este conflito teve diversos desenvolvimentos. Inicialmente pensou-se que a Rússia ia limpar a Ucrânia em dois ou três dias, portanto a União Europeia não quis meter-se muito com medo que lhe cortassem o gás. Mais uma vez o gás no centro da questão numa guerra na Europa.
Acho que um dos motivos que mais impressionou neste conflito foi o facto de ser um dos poucos em que se vê um Presidente e o próprio povo a pedirem ajuda e ter ficado tudo parado a olhar à espera de um fim que todos já sabemos qual seria.
Feliz e heroicamente tal não ocorreu e os ucranianos têm conseguido resistir liderados pelo seu Presidente, Volodymyr Zelensky. Foi o nascer de um símbolo. Se por milagre o Zelensky conseguir aguentar-se a si e à Ucrânia emergirá dessa guerra simultaneamente como o maior líder e influenciador de mídia social do mundo. Um verdadeiro Churchill ucraniano. E nota-se bem que o homem era comediante, tal as punchlines que ele manda.
A luta é aqui; eu preciso de munições, não de uma boleia.
Muitos líderes, em condições semelhantes, já se tinham posto na alheta. O Zelensky tem uma coragem fora do normal para o que vemos dos políticos em todo o Mundo. Por outro lado, eu acho que ele talvez ainda não tenha saído de Kiev, porque não se consegue mexer devido ao tamanho enorme dos seus tomates.
A opinião pública começou a ficar ligada no que se passava na Ucrânia e isso começou a reflectir-se nas acções que os Governos e instituições começaram a tomar. Começámos a ver vídeos e informações, uns verdadeiros outros falsos, que nos fez reagir.
Tivemos o caso dos 13 soldados ucranianos sozinhos numa ilha contra um navio de guerra russo e que o mandaram fo****.
Tivemos o piloto ucraniano que andava a destruir aviões russos e ficou conhecido como Ghost of Kiev.
Tivemos o caso do tanque russo que esmagou o carro civil com o condutor dentro, nos arredores de Kiev. Duvido que tenham preenchido a declaração amigável.
Tivemos o Ministério da Defesa da Ucrânia a pedir a civis que recebam o exército russo com cocktails. Os ucranianos são realmente um povo fantástico, em guerra e ainda assim preocupados em receber bem os invasores.
E muito, muito mais. Sem nunca se saber realmente a verdade, mas isso também não interessa muito. A história e o estoicismo ucraniano é tudo o que queremos consumir. A Ucrânia pode vir a perder a guerra no terreno, mas vai ganhar a guerra dos memes.
Enquanto isso, os dias iam passando e a Rússia a tentar fazer o cerco a Kiev, mas sem o conseguir. Se eles tentassem fazer um cerco a Lisboa ia ser um fartote de tanques apanhados pelos radares. Falíamos completamente a Rússia em multas.
A comunidade internacional decidiu intervir. Sanções e mais sanções e mais sanções e mais sanções. Já não se falava tanto em sansões desde o tempo do Antigo Testamento. Não percebi porque é que demoraram tanto tempo para aplicar a medida do SWIFT. A Taylor Swift não actuar mais na Rússia devia ser logo a primeira sanção aplicada. Neste momento eles têm tudo congelado. Estão a sentir o verdadeiro Inverno russo.
Muitos países já começaram a fornecer ajuda à Ucrânia. No caso de Portugal, nós vamos enviar armas, só precisamos saber onde elas estão primeiro. Tirando isso tudo perfeito. Lisboa também criou um centro de acolhimento para refugiados vindos da Ucrânia. Fernando Medina já se voluntariou para ser ele a tratar das fichas de inscrição. Sempre em duplicado, claro.
Portugal é tão à frente que, com vários anos de antecedência, até já ensinou as técnicas para os ucranianos poderem reconstruir o país depois da guerra. Por outro lado, as forças especiais russas que estão a invadir a Ucrânia são constituídas maioritariamente por elementos que vieram estagiar no SEF, portanto também temos alguma culpa no que se tem passado.
Este aumento do envolvimento internacional levou a que o Putin escalasse também o nível das ameaças.
Os principais líderes da NATO fizeram declarações ofensivas. Vou meter as armas nucleares em alerta, porque ofenderam os meus sentimentos.
O Putin é oficialmente um utilizador das redes sociais, mas com armas nucleares. Esta guerra esta definitivamente ao rublo.
A televisões também foram buscar todos os especialistas que conseguiram encontrar para comentar o que se vai passando. Acredito que alguns até seriam simplesmente frequentadores da discoteca Kremlin nos anos 90. Mas pronto, não interessa.
Eu tenho acompanhado maioritariamente as notícias pela SIC/SIC Notícias. Para mim, com o Nuno Rogeiro e o José Milhazes, têm os comentadores mais interessantes para ouvir nisto do conflito da Rússia com a Ucrânia. Notem que não digo os melhores. Mas estes são must see TV.
A comunicação social, em particular as televisões, já paravam era de utilizar vídeos das redes sociais como se fossem informação totalmente fidedigna sobre o que se passa na Ucrânia. Façam alguma verificação mínima antes, pelo menos.
Uma coisa que ninguém fala é como os emigrantes portugueses na Ucrânia vão repetir a votação para as eleições legislativas. Anda tudo preocupado com uma III Guerra Mundial e depois destes assuntos realmente importantes ninguém quer saber.
Queria só deixar um reconhecimento final aos russos que estão na Rússia a manifestar-se contra a guerra. É preciso muita coragem para tentar combater esta guerra por dentro, em particular lá, ainda para mais quando estamos todos do lado ucraniano e a deixá-los isolados.
Ontem decorreram mais umas eleições legislativas e com um dos resultados mais surpreendentes dos últimos tempos. O PS conseguiu sacar uma maioria absoluta quando ninguém esperava. Portugal ficou uma verdadeira toalha rosa com uma nódoa laranja chamada Madeira. Os portugueses gostam muito de queixarem-se do estado das coisas, mas depois acabam por votar nos mesmos e até lhes dar mais poder. É nestas "pequenas" coisas que se nota que a maioria do país é benfiquista.
Votos contados e eleições finalizadas, aqui fica a opinião que interessa (qual Marques Mendes qual quê) sobre os resultados de cada partido que concorreu a estas eleições legislativas:
PPM - 260 votos. Claramente a monarquia está morta em Portugal.
Aliança - Teve menos de 2000 votos. Sem Santana Lopes à frente, o partido morreu. Não há dúvidas que com a taxa de divórcios a aumentar os portugueses não querem nada com alianças.
Nós, Cidadãos! - A táctica de ter um militar a tentar comparar-se o máximo possível com o Gouveia e Melo não deu resultados. O facto desta táctica ter falhado é a prova que não tinham mesmo nada a ver um com o outro.
PTP - O partido cujo tempo de antena era um Powerpoint feito por um miúdo da primária. Este partido valeu a pena por ter feito o senhor do Ergue-te assumir-se como racista em plena RTP no debate dos partidos pequenos. Foi um belo momento televisivo.
Ergue-te - Disse-o há dois anos e volto a dizer. Coitado do Ergue-te. Anda um partido há anos a apregoar racismo, xenofobia e outros extremismos para agora verem todo o seu trabalho de base apropriado pelo CHEGA.
VOLT - Tiveram uma tensão eléctrica realmente muito baixa. VOLTem sempre.
MAS - São a prova que não é necessário um movimento de alternativa socialista quando quase todos os outros partidos já o são. A cabeça de lista por Lisboa, Renata Cambra, foi uma das surpresas no debate dos partidos sem assento parlamentar por ser alguém que conseguia dizer duas frases com sentido no meio daquele gente toda. No entanto, a Renata Cambra tem mais seguidores no Twitter do que o MAS teve de votos no país inteiro. Acho que quer dizer alguma coisa.
MPT - Um partido ecologista que está feito em compostagem.
ADN - Eu não estou a conseguir lidar com a quantidade de chalupas que votou no ADN. Cerca de 10000 pessoas. É que depois ainda todos os outros semi-chalupas disfarçados e que votaram em outros partidos.
PCTP/MRPP - Mais uma vez ainda não foi desta que aconteceu a revolução do proletariado. Nem se mataram os traidores. Bem, fica para a próxima.
JPP - Apesar de já estarmos quase a passar a pandemia, os portugueses ainda acham melhor que isto de estar Juntos Pelo Povo não é a melhor ideia. Há que manter uma certa distância social. Talvez tenha sido por isso o seu fraco resultado.
RIR - Ai Tino, Tino... Ainda não foi desta. O pessoal do Porto diz-se muito diferente e tal, mas depois nem sequer consegue eleger o Tino de Rans. Vão-se lixar! Estou extremamente desapontado.
Livre - O Livre foi o único partido que sempre defendeu o diálogo à esquerda e por isso não foi afectado pelo voto útil à esquerda no PS. Após várias tentativas, Rui Tavares finalmente conseguiu ser eleito. A Joacine até perdeu a gaguez quando viu isso. No entanto, nada tem mais cara de Rui Tavares do que, quando é finalmente eleito, o PS depois acabar por ter maioria absoluta e não precisar dele.
PAN - Esta foi uma noite eleitoral complicada para o PAN. Parecia mesmo que o partido iria optar por uma dieta vegetariana no Parlamento e não ficar lá com carne alguma. A Inês Sousa Real passou a noite toda a reflectir sobre tudo, até se devia voltar a comer carne. Ainda assim, mesmo no fim e com um resultado abaixo de cão, o PAN lá conseguiu eleger a sua porta-voz. Salvou-se da extinção mesmo na última. O lado positivo é que seguiu a sua veia ecologista e diminuiu a sua pegada de carbono no Parlamento.
CDS-PP - Já se sabia desde o início que ia ser uma noite longa para o CDS. Eu até pensei que o Chicão tinha tomado um leitinho quente e ido para a cama sem falar. Já de madrugada ele lá veio fazer o seu discurso e despediu-se com um "Viva o CSD!". Declaração curiosa para quem acabou de matar o partido. O CDS vai passar de partido do táxi para partido do submarino, mas daqueles que já não voltam à superfície. O Chicão, depois dos resultados de ontem, vai deixar de apoiar as touradas. Já viu que isto de fazer pegas de caras não é para ele. Agora lá vai ter de ir arranjar novo trabalho. Talvez se safe como barman, não sei. Parecendo que não, ainda vamos sentir muitas saudades do Chicão e do CDS. Para o próximo líder do CDS fica agora a tarefa de fazer um excelente sexo oral ao próximo líder do PSD para o incluir numa próxima coligação e ver se assim consegue ressuscitar o partido.
CDU - Um dos grandes vendedores da noite. Porquê? Não sei, mas é o que dizem sempre. Isto da Covid-19 foi péssima para o PCP, levou-lhes a maioria dos eleitores mais cedo do que o esperado. Este resultado abre caminho a uma mudança na liderança do partido, mas como João Oliveira não conseguiu ser eleito, a porta ficou escancarada para João Ferreira ser o escolhido. A parte positiva do resultado eleitoral é que esta maioria do PS foi uma das melhores coisas que poderiam acontecer ao PCP. Pode voltar às origens e à luta nas ruas.
BE - Catarina Martins veio logo a público assumir a derrota. No discurso disse "foi uma derrota por causa do resultado que teve a extrema direita e o CHEGA". Isto de ser ultrapassado pela IL fritou o pessoal do BE completamente, já não sabem o que dizem. Nas perguntas com os jornalistas, Catarina Martins estava com uma certa dificuldade em perceber as perguntas e disse "Eu não estou a ouvir nada, peço desculpa". Ora é exactamente esse o problema do Bloco de Esquerda, foi um excelente resumo. Não ouvir nada do que os outros dizem. Provavelmente o Bloco também vai ter de mudar de liderança, mas, mais do que isso, vai precisar de mudar a forma como faz política. Entretanto, durante os próximos anos, o Bloco de Esquerda vai estar como gosta, em minoria.
IL - A Iniciativa Liberal foi um dos grandes vencedores da noite é certo, mas o Cotrim Figueiredo vir dizer que só o PS e a IL ganharam é sinal que a festa já estava a ser grande antes daquele discurso e o homem já devia ter bebido demais. Não deve ter visto a votação daquele partido que ficou com mais 50% dos deputados que ele. É também meio estranha a festa desmesurada quando toda a campanha foi feita a dizer que o socialismo é a grande razão do estado do país e que o liberalismo é a solução. Ora, O SOCIALISMO TEVE MAIORIA ABSOLUTA. Isto é como o teu prédio ter uma fuga de gás e rebentar todo, mas estares todo contente porque ganhaste um carro.
CHEGA - O CHEGA é a prova que vale mais ir para a porta dos cafés sacar frases feitas do que escrever um programa eleitoral. O André Ventura teve um grande resultado e falou como se a partir de amanhã fosse ele a governar Portugal. Se o resultado foi assim tão bom, imaginem os votos que teria se o André Ventura não tivesse assassinado a música do Rui Veloso. Até o Algarve elegeu um deputado do CHEGA. Já devem estar fartos dos estrangeiros que só provocam desacatos. Falo, claro, dos ingleses. Arrisco-me a dizer que, face à governação que se avizinha, numas próximas eleições legislativas, o CHEGA ainda vai crescer mais. Vai acumular ainda mais o voto dos descontentes. Mas não há problema, alguns continuam a achar que os seus votos é só de fascistas, racistas e outros istas. É mais simples assim.
PSD - Rui Rio foi votar na Escola Básica do Bom Sucesso e previa-se uma noite cheia de ironia face ao local de voto. O homem olhou para as sondagens durante a campanha e, claramente, comeu Zé Albino por lebre. Rui Rio, no discurso final, disse que não ia mencionar o nome de todas as pessoas que o ajudaram na campanha. Essas pessoas também preferiram não ser mencionadas. Disse também que o PSD não teve os resultados que queriam, mas conseguiram cumprir o orçamento da campanha. Assim sim. Assim valeu a pena. Grande Rio!
PS - Tudo correu bem a António Costa. Fez uma campanha ziguezagueante que as sondagens pareciam fazer crer que o iam penalizar, mas saiu-se com uma maioria absoluta. António Costa foi brilhante ao dar força ao CHEGA, trazer sempre o CHEGA à baila, para assim conseguir desviar votos do PSD e agregar em si a esquerda. Ainda ontem no seu discurso vitorioso o fez, já viu que essa táctica funciona. Face aos resultados, eu se fosse ao António Costa, ontem à noite, tinha telefonado à Catarina Martins para combinar a tal reunião de hoje que ela sugeriu. Só naquela de fomentar o diálogo e poder gozar na cara. Mas isto sou eu que sou um bocado rancoroso. Agora temos todos de nos preparar, porque se sem maioria absoluta já era o que era, tremo só de pensar o tachismo socialista que aí vem. Vai parecer a noite de passagem de ano com tanto tacho a bater.
Abstenção - O pior destas eleições foi que não havia roulote de farturas e churros junto à entrada do local de voto. Como é que querem baixar a abstenção com estas medidas? Ainda assim tivemos uma taxa de abstenção menor do que das últimas vezes, o que tendo em conta que havia cerca de 1 milhão de confinados até me pareceu bem bom. Uma coisa que as pessoas têm de parar de dizer é que a abstenção é deixar que outros decidam por nós. Sabem o que é também deixar que outros decidam por nós? Votar. É todo esse o conceito de ir votar, escolher alguém que decida por nós.
Brancos/Nulos - Juntos foram a sétima "força política". Houve mais gente a votar em branco ou nulo do que no CDS, PAN ou Livre. Isto sim é que devia dar que pensar.
Pronto, agora só daqui a quatro anos novamente. Desta vez não teremos novas eleições legislativas tão brevemente.
Depois de ver como a realização da Festa do Avante! decorreu, o Governo ainda vai pedir ao PCP para ser o responsável pela aplicação das regras de segurança sanitária definidas pela DGS pelo país fora, em particular, no início do novo ano lectivo.
Ontem, no Governo Sombra, Ricardo Araújo Pereira disse que a realização da Festa do Avante! pelo PCP não era sensato. Ricardo Araújo Pereira que vai participar num debate sobre humor e política... na Festa do Avante!.
Isto faz-me lembrar quando vou comer fora e penso «Não devia pedir sobremesa que já estou gordo... Oh, que se lixe! Olhe é uma mousse de chocolate, se faz favor.».
- Desculpe, podia-me dizer onde é a festa do Partido Comunista? - Avante, à esquerda!
A realização da Festa do Avante! será alvo de forte crítica durante a próxima semana, em grande parte porque esperamos que os partidos deem o exemplo e que o Governo faça regras que sejam aplicadas a todos de igual forma. No entanto, já estamos mais do que habituados a que isso não aconteça. Porque seria diferente desta vez?
A não ser por motivos humorísticos para se brincar com a situação não há grandes razões para crítica. A realidade é que, passados todos estes meses de desconfinamento, não há muitos Portugueses que tenham superioridade moral para se queixar do PCP pela realização da festa.
Já tivemos centros comerciais com filas enormes, manifestações antirracismo, manifestações anti-manifestações antirracismo, festas diversas, Fátima, praias cheias, pessoas a falar com outras com a máscara a proteger o pescoço e muitos mais casos. Cada um à sua dimensão, as regras de proteção têm sido constantemente quebradas pelos Portugueses conforme dá jeito. Como é que agora se podem queixar da Festa do Avante?
Mais ainda, se a Festa do Avante! estiver cheia com os 16500 de que se fala será única e exclusivamente porque as pessoas decidiram lá ir, não foi o camarada Jerónimo que as obrigou.
Só tenho pena é que os eventuais grandes afetados possam vir a ser os idosos que estão nos lares e não colocam um pé fora dos mesmos há meses. Já que é para morrer, ao menos libertem os velhinhos para curtirem os últimos tempos de vida. Deem-lhes passes de 3 dias para curtirem Blasted Mechanism, Capicua e muito mais na Quinta da Atalaia. Isso é que era.
Após a realização da Festa do Avante!, se eventualmente for identificado um surto que tenha tido origem lá, só peço que o PCP e todos aqueles artistas que decidiram fazer parte venham a público pedir desculpas. Se o Olavo Bilac foi praticamente forçado a isso por ter ido cantar ao comício do CHEGA!, acho que é mais do que justo um tratamento semelhante se for comprovado um surto, não acham? Até nem estou a pedir muito.
Isto excepto os Xutos & Pontapés. No caso particular dos Xutos, que são um ódio de estimação meu, espero que morram (musicalmente falando) e deixem de dar concertos de uma vez por todas. Se nos outros anos conseguem uma omnipresença de estar em tudo o que é festival, logo no ano em que não há festivais vão ao único não-festival que é um festival. Já não há paciência para os aturar.
Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa disseram que a democracia não tinha sido suspensa com a pandemia. Esta é uma frase acertada, mas que abriu a porta a um conjunto de iniciativas partidárias e sociais que deveriam ficar para outras alturas sanitariamente mais calmas. Não falo sequer das comemorações do 25 de Abril e do 1 de Maio que, apesar de não concordar com a forma como foram realizadas, ainda dou de barato por serem datas especiais. Refiro-me sim às manifestações pós-desconfinamento.
Eu olho para os nossos partidos dos extremos e imagino-os como daquelas crianças mimadas, mal-educadas, que fazem birras a toda a hora para obrigarem os pais a fazerem o que elas querem. Tipo a filha da minha vizinha do lado… Mas isso já é outro assunto… voltando ao tema. Como miúdos mimados, para terem atenção, têm de fazer barulho, ou seja, manifestações. E têm de ser quando eles querem! Ai de quem os contrarie…
Começámos então com a manifestação contra o racismo, Black Lives Matter style, que serviu para o Bloco de Esquerda e a Joacine Katar Moreira se colarem a ela e surfarem na onda. Foi agradável voltar a ver a Joacine que andava desaparecida. Ouvi-la a vociferar, sem gaguejar, frases com um toquezinho racista numa manifestação antirracista é algo que enche o coração. Mas aparentemente só os caucasianos é que são racistas, deve ser uma forma de white privilege qualquer… Ora, como esta era uma manifestação com motivações bem intencionadas, Governo e DGS abençoaram-na, impedindo assim que o vírus se propagasse em quem nela participou.
Esta semana tivemos a manifestação da CGTP, apoiada pelo PCP, com cerca de 400 pessoas. A CGTP que já tinha sido tão bem vista no 1 de Maio, decidiu repetir a dose, logo no dia do anuncio das medidas restritivas para a zona de Lisboa e Vale do Tejo. Manifestantes a dizer que é só seguir algumas recomendações da DGS para prevenir contágio e que há os serviços médicos para fazerem o seu trabalho. Cereja no topo do bolo, a secretária-geral da CGTP, defendendo a manifestação, dizendo que não se pode confundir com eventos particulares, que aquele é um direito dos trabalhadores. O coronavírus é capitalista e não infecta camaradas comunistas.
Finalmente, ontem, tivemos a manifestação organizada pelo CHEGA contra a manifestação contra o racismo, mas que não é a favor do racismo. Devo confessar que em termos lógicos é uma equação complicada de perceber. Tem demasiadas negações.
André Ventura que sempre se colocou contra a realização de todas as manifestações anteriores achou por bem que esta é que se deveria realizar. Em termos lógicos, esta também é uma equação complicada de perceber, mas se há algo que podemos sempre contar é que André Ventura apregoe uma coisa e faça outra. Isto acaba por facilitar um bocado.
Logo no dia em que saiu um estudo europeu que diz que 62% dos portugueses manifestam comportamentos racistas, uma manifestação com o mote “Portugal não é racista”. Timing perfeito. Para estes manifestantes, Portugal é o único país no Mundo onde não há racismo. Deve ter havido algum decreto ou assim, como o que fizeram na Câmara Municipal de Lisboa, que limpou o racismo do país. Curiosamente, enquanto André Ventura proclamava que Portugal não é um país racista, dizia também que rejeitava sustentar minorias, minorias estas que querem continuar a não fazer nada. Elogiando de seguida polícias, professores, profissionais de saúde, motoristas de transportes públicos e empresários. Foi deveras educativo saber que estas profissões não contêm pessoas pertencentes a minorias. Nunca pensei.
Bem, o André Ventura lá fez o seu caminho pela Avenida da Liberdade abaixo, liderando a sua trupe de apoiantes, lado a lado com a sua fã número um, Maria Vieira, e com um manifestante negro à frente e sempre em destaque. Mais um sinal óbvio de que não podem ser racistas, porque até têm um amigo que é preto.
Chegado ao Terreiro do Paço, André Ventura agradeceu a todos que o acompanharam, por não o terem deixado caminhar sozinho. Não sei se ele é o único português que tem medo de descer a pé, a Avenida da Liberdade, num Sábado à tarde, sozinho ou se foram resquícios da vitória do Liverpool no campeonato que fizeram dizer aquilo. Ficou a dúvida.
Portanto, partidos políticos, por favor, deixem todas estas manifestações que a maioria dos portugueses não quer saber para nada para daqui a uns meses. Esperem que a taxa de infeção pelo coronabicho fique mais baixa e depois, aí sim, realizem todas as manifestações patetas que vos der na telha. Isso sim, os portugueses agradeciam.
Não deixa de ter uma certa piada, pessoal que gozou com o facto do PCP ainda não ter desistido da Festa do Avante! achar normal os espectáculos do Deixem o Pimba em Paz no Campo Pequeno com 2000 pessoas cada dia.
Como eu já disse, um ajuntamento é mesmo uma questão mais filosófica e abstracta do que propriamente física. Ou seja, acaba por não depender da distância das pessoas entre si. Depende da relação entre as pessoas, depende do que as pessoas estão a fazer e, mais que tudo, depende se queríamos ir a outra coisa que não deixam, mas "Ah e tal, esta já deixam!".
É estranha a pouca preocupação que os comunistas têm com o novo coronavírus. Primeiro a serem contra a declaração do estado de emergência, depois com a celebração do 1 de Maio e agora com a realização da Festa do Avante! ainda meio entreaberta.
O PCP deveria ser o maior interessado em que o vírus não se espalhasse. Afinal de contas, ambos têm particular incidência sobre o mesmo público alvo e, se as coisas correm mal, o PCP ainda acaba por ficar sem eleitores.