Uma das notícias interessantes, digamos assim, deste fim de semana foi a manifestação contra a gestão da pandemia que ocorreu em Lisboa e juntou cerca de 3000 pessoas.
Ora, à partida, não sou contra este tipo de manifestações. Há muita gente a sofrer e razões para nos queixarmos de como a pandemia foi gerida há de sobra. Já têm ocorrido várias manifestações do género. Tudo certo.
Agora, quando se juntam milhares de pessoas sem máscara, tudo ao molho, com cartazes contra as vacinas, não estamos a falar de gente preocupada com pandemia. Estamos sim a falar de uns totós negacionistas que acham que liberdade é fazer-se o que se quer sem consequências. E podem vir dizer que não são negacionistas, mas o que chamar a quem não usa máscara para se proteger e proteger os outros numa multidão? Só negando o vírus e os problemas que o mesmo pode causar. Eu, por exemplo, quando ando na rua sozinho normalmente não ando de máscara posta, mas quando existe a possibilidade de me cruzar com um aglomerado de pessoas de uma forma próxima, coloco-a. Porquê? Porque mesmo que eu me sinta bem e ache que o vírus possa não me afectar fortemente (o que é jogar na lotaria), não sei como poderia afectar outra pessoa com quem me fosse cruzar. É tudo uma questão de respeito pelo próximo, coisa que estas pessoas não têm.
O que não deixa de ser curioso, como podemos ver pela imagem acima, é que muita desta gente nega a utilização das máscaras, mas não nega a utilização de óculos de sol. Não acreditam na protecção das vias respiratórias, mas acreditam na protecção dos olhos. É engraçado.
Esta manifestação também tornou-se mais interessante, porque ficou marcada pela presença de algumas "figuras públicas": Adelaide Ferreira, Sandra Celas e Wanda Stuart. Muita gente ficou surpreendida, mas é uma questão de probabilidades. Em 3000 manifestantes, haver 3 totós conhecidas parece-me normal. Até digo mais, é até um número bem baixo. Se este tipo de manifestações anda a atrair artistas que já tiveram alguma notoriedade, mas que andam arredados da fama faz alguns anos e estão esquecidos, ainda tem muito para crescer.
O facto de serem três pelo menos dá para fazer a piada do bar. Será algo como:
A Adelaide Ferreira, a Sandra Celas e a Wanda Stuart entram num bar. É o LAPO.
É irónico que um Governo tão ligado a tachos lixe tanto a indústria da restauração. É óbvio que são uma das actividades económicas mais afectadas pelas restrições impostas e que devem ser ajudados.
No entanto os empresários da restauração embrenharam-se demasiado no espírito de uma das características que faz parte da nossa Portugalidade, a nossa capacidade para pedir. Mas não é aquele pedir normal. Não. É aquela capacidade bastante típica de pegar em problemas legítimos que precisam de solução e começar a exigir e exigir e exigir e exigir, sem saber quando é a altura de parar, até começarem a vir as exigências confeccionadas sem um ingrediente básico, a noção.
Qualquer Português sabe que se é para exigir, é para exigir à grande e Ljubomir Stanisic também já é um dos nossos. Estranho é isto ser feito por alguém relacionado à restauração. Alguém que sabe melhor do que ninguém que o excesso de um ingrediente ou um ingrediente em falta podem simplesmente estragar uma comida.
Apesar de tudo, devo dizer que, relaciono-me com algumas dessas exigências sem noção, porque lembro-me de em miúdo pensar «Se as pessoas precisam de mais dinheiro, porque é que não imprimem notas?». Infelizmente cresci e tive de abandonar a Terra do Nunca, mas é sempre bonito ver quem mantém esta inocência de criança mesmo já sendo adulto, pensando que o Governo tem dinheiro infinito para fazer tudo.
Só fiquei surpreendido com a manifestação de ontem no Porto ter acabado em confusão. Quem diria? Uma manifestação com o Ljubomir Stanisic como um dos líderes a acabar em confrontos? Foi realmente surpreendente.
Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa disseram que a democracia não tinha sido suspensa com a pandemia. Esta é uma frase acertada, mas que abriu a porta a um conjunto de iniciativas partidárias e sociais que deveriam ficar para outras alturas sanitariamente mais calmas. Não falo sequer das comemorações do 25 de Abril e do 1 de Maio que, apesar de não concordar com a forma como foram realizadas, ainda dou de barato por serem datas especiais. Refiro-me sim às manifestações pós-desconfinamento.
Eu olho para os nossos partidos dos extremos e imagino-os como daquelas crianças mimadas, mal-educadas, que fazem birras a toda a hora para obrigarem os pais a fazerem o que elas querem. Tipo a filha da minha vizinha do lado… Mas isso já é outro assunto… voltando ao tema. Como miúdos mimados, para terem atenção, têm de fazer barulho, ou seja, manifestações. E têm de ser quando eles querem! Ai de quem os contrarie…
Começámos então com a manifestação contra o racismo, Black Lives Matter style, que serviu para o Bloco de Esquerda e a Joacine Katar Moreira se colarem a ela e surfarem na onda. Foi agradável voltar a ver a Joacine que andava desaparecida. Ouvi-la a vociferar, sem gaguejar, frases com um toquezinho racista numa manifestação antirracista é algo que enche o coração. Mas aparentemente só os caucasianos é que são racistas, deve ser uma forma de white privilege qualquer… Ora, como esta era uma manifestação com motivações bem intencionadas, Governo e DGS abençoaram-na, impedindo assim que o vírus se propagasse em quem nela participou.
Esta semana tivemos a manifestação da CGTP, apoiada pelo PCP, com cerca de 400 pessoas. A CGTP que já tinha sido tão bem vista no 1 de Maio, decidiu repetir a dose, logo no dia do anuncio das medidas restritivas para a zona de Lisboa e Vale do Tejo. Manifestantes a dizer que é só seguir algumas recomendações da DGS para prevenir contágio e que há os serviços médicos para fazerem o seu trabalho. Cereja no topo do bolo, a secretária-geral da CGTP, defendendo a manifestação, dizendo que não se pode confundir com eventos particulares, que aquele é um direito dos trabalhadores. O coronavírus é capitalista e não infecta camaradas comunistas.
Finalmente, ontem, tivemos a manifestação organizada pelo CHEGA contra a manifestação contra o racismo, mas que não é a favor do racismo. Devo confessar que em termos lógicos é uma equação complicada de perceber. Tem demasiadas negações.
André Ventura que sempre se colocou contra a realização de todas as manifestações anteriores achou por bem que esta é que se deveria realizar. Em termos lógicos, esta também é uma equação complicada de perceber, mas se há algo que podemos sempre contar é que André Ventura apregoe uma coisa e faça outra. Isto acaba por facilitar um bocado.
Logo no dia em que saiu um estudo europeu que diz que 62% dos portugueses manifestam comportamentos racistas, uma manifestação com o mote “Portugal não é racista”. Timing perfeito. Para estes manifestantes, Portugal é o único país no Mundo onde não há racismo. Deve ter havido algum decreto ou assim, como o que fizeram na Câmara Municipal de Lisboa, que limpou o racismo do país. Curiosamente, enquanto André Ventura proclamava que Portugal não é um país racista, dizia também que rejeitava sustentar minorias, minorias estas que querem continuar a não fazer nada. Elogiando de seguida polícias, professores, profissionais de saúde, motoristas de transportes públicos e empresários. Foi deveras educativo saber que estas profissões não contêm pessoas pertencentes a minorias. Nunca pensei.
Bem, o André Ventura lá fez o seu caminho pela Avenida da Liberdade abaixo, liderando a sua trupe de apoiantes, lado a lado com a sua fã número um, Maria Vieira, e com um manifestante negro à frente e sempre em destaque. Mais um sinal óbvio de que não podem ser racistas, porque até têm um amigo que é preto.
Chegado ao Terreiro do Paço, André Ventura agradeceu a todos que o acompanharam, por não o terem deixado caminhar sozinho. Não sei se ele é o único português que tem medo de descer a pé, a Avenida da Liberdade, num Sábado à tarde, sozinho ou se foram resquícios da vitória do Liverpool no campeonato que fizeram dizer aquilo. Ficou a dúvida.
Portanto, partidos políticos, por favor, deixem todas estas manifestações que a maioria dos portugueses não quer saber para nada para daqui a uns meses. Esperem que a taxa de infeção pelo coronabicho fique mais baixa e depois, aí sim, realizem todas as manifestações patetas que vos der na telha. Isso sim, os portugueses agradeciam.
Já todos devem ter visto esta imagem deste homem que estava na manifestação anti-racista a salvar o contramanifestante de extrema direita da multidão em fúria. É uma imagem forte. Mas olhem para a cara do gajo que está a ser carregado e ponham-se dentro da mente dele. Racista, atordoado e a ser carregado por um negro, com os outros gajos negros atrás a gritar. Isto devia estar no top 5 dos seus piores pesadelos. Provavelmente devia estar a pensar que o iam levar para uma gruta e sacrificá-lo num ritual africano qualquer. Aposto que se deve ter borrado um bocado.