Cinema português, um animal em vias de extinção?
Como talvez saibam, vai ser proposta uma nova lei do audiovisual que, para além de vincular as plataformas de streaming à obrigação de investir na produção nacional, prevê também a criação de uma nova taxa de 1%.
As receitas obtidas com esta nova taxa revertem para o Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), contribuindo para financiar a escrita, produção, distribuição e exibição de obras de cinema e televisão em Portugal.
Resumidamente, as plataformas de streaming irão criar novos filmes nacionais, alavancando com isso toda uma indústria cinematográfica nacional, mas, para além disso, terão também de dar dinheiro para outros irem realizar filmes portugueses que ninguém quer ver. Se percebi bem a ideia, basicamente é isto.
Os defensores da taxa dizem que é uma maneira de defender a diversidade do cinema português. No entanto, a não ser que o cinema português tenha umas características tão distintivas de todos os outros cinemas, não estou a ver porque razão as plataformas de streaming deveriam contribuir para isso. Acho que o McDonald's não paga nenhuma taxa para a tasca do Zé fazer cozido à portuguesa e feijoada à transmontana. Queres fazer um filme como uma espécie de masturbação intelectual cinematográfica, muito bem, arranja investimento.
Se o cinema português tiver mesmo características únicas no Mundo que eu desconheço, calo-me já. Se o lince da Malcata merece o nosso contributo para evitar a sua extinção, então o cinema português também o merecerá. Gostava era mesmo de saber o que tem de tão distintivo dos outros e o facto de, tirando raras excepções, não ter público não conta como característica diferenciadora.
Bem, já que a Netflix vai ser obrigada a investir na produção de conteúdo cinematográfico nacional, aproveito para deixar aqui uma ideia que penso ser um excelente ponto de partida. Uma série sobre o assassinato do triatleta Luís Grilo.
Todo o enredo do assassinato por si só já é fortíssimo, mas agora ainda temos a advogada de defesa, um consultor e ex-inspector da PJ e o próprio pai da Rosa Grilo a serem constituídos arguidos por, alegadamente, terem um papel na tentativa de encobrimento do homicídio. Aparentemente, a PJ e o Ministério Público suspeitam que eles tenham plantado provas para iludir o tribunal e tentar evitar a condenação. Isto já é todo um outro nível.
Podia ter Marina Mota como Rosa Grilo, Nuno Lopes como António Joaquim, Luís Esparteiro como Luís Grilo. Seria certamente uma série com todos os ingredientes para o sucesso. Já agora, digam aí nos comentários que actores escolhiam para os vários personagens.
Se esta ideia for para a frente, digo já que eu quero ser um dos figurantes que grita "ASSASSINOS!" junto ao tribunal.