Pelo que tenho visto, devo ter sido dos poucos seres em Portugal que não viu a entrevista do Tony Carreira ao Manuel Luís Goucha na TVI. No entanto, sem ter assistido a qualquer bocado da entrevista, acho que consigo adivinhar o que se passou. O homem estava todo alegre e divertido? Não? Um pai que perde de uma forma repentina e dramática uma filha que amava profundamente não estava ali a pular aos saltos? Não me digam que estava todo destruído emocionalmente e relatou momentos da dor que passou e continua ainda a passar? Epá, isso é que seria mesmo surpreendente...
Este tipo de programas não me trazem qualquer vontade para assistir. É como estar a olhar para um enorme acidente numa auto-estrada. Se puder, vou evitar assistir, porque não quero ficar com a imagem na cabeça de ver gente toda rebentada e ensanguentada. Nisto é muito semelhante, mas os danos são emocionais e psicológicos. Por muito que seja feita de livre vontade e bem conduzida, este tipo de entrevistas só serve para alimentar uma curiosidade mórbida de estar a assistir ao sofrimento de outrem. Não consigo ver qualquer interesse televisivo nisso.
Estamos num Mundo em que cada vez mais parece que as pessoas só conseguem entender que alguém está a sofrer se a virem mesmo a sofrer. Já falei disso um bocado anteriormente. Existe uma falta de noção de vida e de realidade cada vez maior e com as figuras públicas torna-se ainda pior. Como se elas não fossem pessoas reais que podem passar o mesmo que qualquer outra pessoa em situações semelhantes e são precisas provas de tal. Como se fosse necessário assistir aos sentimentos dos outros para de alguma forma validar os nossos próprios ou, pior, artificialmente despoletar sentimentos. É que faz-me mesmo muita estranheza uma pessoa não ser capaz de se colocar minimamente no lugar da outra sem que esta necessite de se expor completamente. Não entendo mesmo.
Entretanto, ao final da noite, a fazer zapping, ainda apanhei a CMTV a fazer uma emissão a comentar a entrevista ao Tony Carreira. Eles olharam para aquilo e pensaram que a TVI não podia ser a única a ter aproveitamento do destroço emocional de um homem em prol de audiências. Típica CMTV. Aquele momento foi um excelente sinal que era altura de eu ir para a cama dormir.
Estive a ver a entrevista de André Ventura ao Miguel Sousa Tavares na TVI e, digam o que disserem, o CHEGA! vai ganhar mais uns milhares de votos. E vai continuar a ser assim a cada tempo de antena que o André Ventura tenha, em particular na televisão e em horário nobre.
André Ventura sabe bem o que deve dizer. Para além disso, tem todo o andamento dos vários programas de comentário desportivo na CMTV. Só com entrevistadores mais preparados é que vão lá.
A frase que mais me chamou a atenção durante a entrevista foi a seguinte:
Dizer isto até me pode custar votos.
Não André. Dizer o que a maioria das pessoas quer ouvir não custa votos. A isso é o que se chama populismo e demagogia. E é o que dá bastantes votos.
Não queria estar a voltar a este tema, mas ontem a entrevista de Luís Filipe Vieira foi demasiado divertida para deixar passar. Para além disso, hoje são as eleições no Sport Lisboa e Benfica, pelo que depois também já não fará sentido voltar a falar disto.
Eu não apanhei a entrevista desde o início, mas, do que vi, teve bastantes momentos incríveis.
Um dos momentos que mais apreciei foi o da seguinte declaração proferida por Luís Filipe Vieira:
Se eu não fosse presidente do Benfica não havia processo LEX para mim.
Exacto! É mesmo esse o problema do processo LEX, oferecer contrapartidas como presidente do Benfica para a resolução de assuntos pessoais. Obrigado Luís Filipe Vieira, mais uma vez, por vir clarificar.
Outro dos momentos que mais gostei, foi a capacidade exímia do presidente do Benfica em esclarecer assuntos. Esteve ao mais alto nível nesse aspecto.
Sócio do Porto -> Quero falar do Benfica, não vou falar disso.
Cavani -> Já é um assunto encerrado, não vou falar nisso.
Processos judiciais -> Isso pertence à justiça, não vou falar disso.
Luisão no banco -> Isso não tem nada a ver com as eleições do Benfica, não vou falar disso.
A sua capacidade em fintar a pergunta dos processos judiciais então foi divinal. «Toda a gente tem processos». Parecia o Seferovic a controlar a bola no final da Taça de Portugal.
Finalizando, a sua apresentação do projecto do futuro do Benfica. Pelo que entendi, o seu projecto para o Benfica é criar o medo nos benfiquistas na vinda de um novo Vale e Azevedo, dizendo que ou é ele o presidente ou então o Benfica acaba. O seu projecto para o futuro é dizer que fez obra no passado. É todo um conceito inovador.
No entanto, ao ouvi-lo puxar pelos medos irracionais da mudança, uma coisa provocou-me uma ligeira confusão. Se o Benfica está assim tão bem, como é que entrando outra pessoa de repente tudo colapsaria? É estranho. Diria que esse até seria um dos seus grandes méritos, ter criado um Benfica estável financeiramente. Mas aparentemente está tudo preso à sua pessoa e só ele saberá como seguir o rumo vencedor. Normalmente não costuma ser um bom sinal quando as empresas estão tão dependentes de uma única pessoa para o trabalho ser realizado em condições.
Bem, resumindo, foi uma excelente entrevista de Luís Filipe Vieira à CMTV, sempre fortíssimo a esclarecer todos os assuntos que um benfiquista gostaria de ver esclarecidos. Assim, sim. Assim vale a pena.
A entrevista do Bento Rodrigues à Ministra da Cultura Graça Fonseca, no Primeiro Jornal da SIC, foi interessante. Conjugou-se um entrevistador que não queria ouvir respostas a uma entrevistada que não queria dar respostas. Foi uma espécie de juntar a fome com a vontade de comer, mas ao contrário.
De qualquer forma, tendo em conta quem mais tinha a perder ali, quase aposto que a Ministra da Cultura saiu da entrevista e foi beber o seu digestivo pós-almoço para abater ali um bocado a azia.