Dos Presidentes da República que exerceram desde que nasci já se foram Mário Soares e agora Jorge Sampaio. Se isto continuar a seguir a ordem, Cavaco Silva será o seguinte. Não comecem a pensar que estou a desejar mal ao Cavaco Silva, longe disso. Parece ser apenas a ordem das coisas.
Para mim, quando morre um Presidente da República, sinto que morre um bocadinho de Portugal. Isto parece uma afirmação um bocado parva, mas o que quero dizer é que cada Presidente simboliza determinada era na evolução do país e dos portugueses. Cada um deles desaparece, é como se essa era que eles simbolizam também estivesse a desaparecer.
Sobre a partida de Jorge Sampaio não vou escrever muito, apenas o seguinte. Jorge Sampaio foi advogado e político, duas das profissões mais odiadas de sempre. Ainda assim, a quantidade de elogios que está a ser alvo pelas mais variadíssimas fontes dos mais diversos quadrantes demonstra que era uma figura ímpar e, acima de tudo, um bom homem. Não é para qualquer um.
É que hoje apareceu uma notícia sobre um abaixo-assinado que junta quase 100 personalidades, entre elas Cavaco Silva e Passos Coelho, pelo direito à objecção de consciência de pais que não queiram filhos nas aulas de Educação para a Cidadania e o Desenvolvimento.
Sempre pensei que a sociedade queria que existisse mais Cidadania informada, mas afinal parece que não. Há 100 personalidades que dizem "Menos cidadania, se faz favor". É estranho, mas estamos em 2020, já pouco me espanta.
Apesar de achar esquisita esta ideia, devo dizer que me sinto tentado a ser a favor deste direito à objecção de consciência. Era desde logo um bom ponto de partido para identificar pais que são umas bestas e que querem que os seus filhos vão pelo mesmo caminho.
Ser cidadão e saber dos seus direitos e deveres não deveria ser uma questão de política de direita ou de esquerda, mas se o medo que está por detrás deste abaixo-assinado está relacionado com a introdução de ideologia política na cabeça das crianças, então não nos fiquemos só pelas aulas de Educação para a Cidadania e o Desenvolvimento. Desde já proponho que o direito à objecção de consciência deve ser alargada às restantes disciplinas. Quem me diz que o professor de História no decorrer do seu ensino não enche a cabeça dos meus filhos com determinada ideologia? Ou o de Português? Ou o de Filosofia? Direito a objecção de consciência já!
Pensem que se calhar o grande problema não é o que ensinam às crianças na escola, mas sim o que não ensinam em casa.
Ou então foi tudo propositado e isto é uma mensagem que pode ter várias interpretações:
Significa que Portugal está sobre controlo estrangeiro e está a precisar de ajuda.
Significa que Portugal está de perna para o ar e como tal a bandeira está na posição correcta. As pessoas é que estão ao contrário.
Significa um sinal de protesto contra o fim do feriado do 5 de Outubro.
Significa que somos governados por um bando de bestas incompetentes que nem sequer sabem olhar para um bandeira e ver que está ao contrário
...
Já agora fica aqui uma pequena nota sobre o Artigo 332.º do Código Penal, que se refere ao ultraje de símbolos nacionais e regionais.
Quem publicamente, por palavras, gestos ou divulgação de escrito, ou por outro meio de comunicação com o público, ultrajar a República, a Bandeira ou o Hino Nacionais, as armas ou emblemas da soberania portuguesa, ou faltar ao respeito que lhes é devido, é punido com pena de prisão até dois anos ou com pena de multa até 240 dias.
Mas pronto, estamos em Portugal, no pasa nada. Se não é pela merda que fazem todos os dias que são julgados criminalmente, não seria por uma bandeira invertida que o seriam.
Era mais que óbvio que as reformas de Cavaco Silva não lhe chegam para pagar as despesas. Caso contrário, não necessitaria deste part-time como Presidente da República.
Eu sou a favor do "prognósticos só no fim do jogo", como tal esta parece-me a melhor altura para fazer os meus prognósticos (mandar uns bitaites) acerca das eleições presidenciais após estas terem terminado.
O grande vencedor desta eleição foi a abstenção podendo-se concluir que o grande derrotado foi o país. No entanto, uma coisa boa que se pode aprender com os políticos é que muitos conseguem ver o copo meio cheio na altura da derrota.
Defensor Moura deu-se como derrotado, porque sempre afirmou que a sua candidatura era anti-Cavaco. No entanto, disse que a sua campanha serviu para fazer "estalar o verniz" de Cavaco Silva e por isso tinha sido positiva. Aproveitou para dizer por palavras um pouco mais leves que Cavaco Silva é um nojo e o que vulgarmente se chama de um grande filho-da-mãe, recusando-se a felicitar o vencedor. Mais tarde, Cavaco viria a dar-lhe razão.
José Manuel Coelho também se mostrou triste por Cavaco Silva ter sido reeleito à 1ª volta, mas sendo o único candidato anti-sistema valorizou (e bem) os seus 4.5%. Com sorte, pode ser que daqui a uns tempos vejamos José Manuel Coelho como deputado a mandar bojardas na Assembleia da República. Pode ser que espevite um bocado o sistema.
Francisco Lopes, tal como os restantes oponentes de Cavaco, não gostou que Cavaco Silva tivesse ganho. Também teve menos votos que Jerónimo de Sousa à 5 anos, mas a vantagem de ser comunista numas eleições é que o PCP nunca perde, nem que seja por "manter o seu eleitorado" (apesar de não saber bem o que isso significa, presumo que seja uma forma de aferirem a taxa de mortalidade dos velhos comunistas).
Fernando Nobre uns dias antes das eleições dizia "Dêem-me um tiro na cabeça porque sem um tiro na cabeça eu vou para Belém", mas depois no final referiu que ele é que tinha sido o grande vencedor com uma candidatura independente histórica. Confirma-se mais uma vez que quando Fernando Nobre discursa o sangue deixa-lhe de fluir para a cabeça e diz coisas estapafúrdias. Ainda nas eleições anteriores, Manuel Alegre como independente e contra Cavaco Silva, Mário Soares, Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa (basicamente os jokers todos) conseguiu uma percentagem maior do que Fernando Nobre. Comparada com essa candidatura, a candidatura de Fernando Nobre (contando com o apoio disfarçado dos Socialistas "anti-Alegre"), apesar de importante para manter aberto o espaço dos independentes, não me parece assim tão histórica.
Manuel Alegre estaria à espera que os votos de à 5 anos se mantivessem e mais alguns se juntassem. Enganou-se redondamente e, por isso, não tinha por onde pegar, sendo o único que não conseguiu arranjar algo de positivo para tirar das eleições e salvar-se um pouco. José Sócrates, por sua vez, deve ter ficado contente por, em princípio, ter despachado o poeta Alegre de vez.
Finalmente, Cavaco Silva. Cavaco Silva mantém-se como Presidente da República e ficou todo feliz por ter sido eleito com o menor número de votos de sempre. Apesar de ter sido eleito à 1ª volta, mais de metade dos portugueses que foram votar (contando com os votos nulos e brancos) não votou em Cavaco, o que indica que menos de 1/4 dos putativos eleitores portugueses votou no senhor Silva. Viva o presidente de todos os portugueses! Para Cavaco Silva a vitória foi ainda maior, porque teve a oportunidade de falar em último lugar e libertar toda a raiva acumulada ao longo da campanha eleitoral sem que os outros já pudessem voltar a falar. Fez dois discursos virados para o passado e cheios de ressentimento, dividindo os portugueses nos bons (os que votaram neles) e os maus (os que votaram nos outros). Viva o presidente de todos os portugueses!
Nota 1: Pedro Passos Coelho teve o discurso mais sério e racional da noite eleitoral.
Nota 2: Engraçado o problema dos Cartões do Cidadão.
Desde que tenho a possibilidade de votar esta é a eleição que mais indiferença me tem causado. Primeiro, porque, no geral, os candidatos não me convencem. Segundo, porque sendo Cavaco Silva o actual presidente é quase certo que será reeleito infelizmente para um segundo mandato como a história até ao momento pode comprovar. Apesar disso dia 23 de Janeiro vou votar, nem que seja para ter a consciência tranquila para dizer que não foi por mim que Cavaco Silva é Presidente da República Portuguesa.
Desde que nasci, Cavaco Silva esteve 15 anos no poder (10 como primeiro-ministro e 5 como presidente da República), por isso se o país está como está muito se deve a esse senhor. Olhando apenas para o seu mandato como presidente da República fez folclore em situações secundárias para o país e em situações mais críticas manteve-se calado.
Agora faz uma campanha nojenta como se não tivesse sido o presidente nestes últimos 5 anos, dando a entender que "agora é que é". Parece que, qual rei D. Sebastião vindo do nevoeiro, será o salvador de Portugal, colocando-se para isso vitorioso em cima do carro. Passou uma campanha inteira sem responder às questões mais incómodas e utiliza terceiros para atacar outros candidatos, conseguindo com isso enganar os mais desatentos e manter a sua aura de pessoa honesta, humilde e séria.
Agora no final da campanha faz uma vergonhosa chantagem com os portugueses dizendo que uma 2ª volta é mau para o país, aumentando os custos despendidos e supostamente também os juros da dívida. O candidato que até agora estava a receber 2 reformas no valor total de 10.042 euros mensais acumulando a isso o vencimento como Presidente da República de 7.415 euros mensais e que tem o orçamento de campanha largamente maior (2.120.000 euros) é que vem com essa conversa? Bem se pode ir lixar mais a sua demagogia barata.
Uma das outras coisas que me faz confusão é que olho para Cavaco Silva e vejo Salazar. É estúpido eu sei, mas acredito que muitas outras pessoas tenham o mesmo sentimento. No entanto, esse sentimento que a mim faz-me não gostar de Cavaco, em grande parte do eleitorado mais velho (mais de 50 anos) provavelmente fá-lo-á ser eleito. Acredito mesmo que se Salazar estivesse vivo e concorresse à Presidência da República ganharia com maioria. Não havendo Salazar parece que ficamos por Cavaco.