O Vírus Influencer
Na passada Quinta-feira a SIC, no Jornal da Noite, transmitiu uma reportagem chamada "#O Conteúdo Somos Nós" sobre alguns influencers digitais (Rui Marques, Mariana Seara Cardoso, Bárbara Corby, Ana Garcia Martins e Fernanda Velez) e na comercialização da sua imagem.
Desde logo achei estranho o título, «#O Conteúdo Somos Nós». Na realidade, não são propriamente. Para quem faz conteúdo nas redes sociais, única e exclusivamente por uma parolice narcisística benigna, isso é verdade. Quem tem marcas por detrás a pagar, o conteúdo já não são bem eles. São simplemente um meio para atingir os seus seguidores, mais um veículo de transmissão de publicidade de marcas.
Se a reportagem queria chamar a atenção para as ideias pré-concebidas que grande parte das pessoas tem sobre os influencers digitais, acho que cumpriu bem essa função. Tirando o Rui Marques e, em parte, a Ana Garcia Martins, também é verdade que todas as outras puseram-se ali bem a jeito, apresentando bem os estereótipos dos influencers. Assim até é fácil bater.
Ficámos a saber que a maneira mais simples de ter seguidores, ser um grande influencer e consequentemente ter bastantes patrocínios, é meter os filhos a render. Tirei notas, vou pensar nisso. Talvez até leve um passo mais à frente e abra uma agência de adopção de crianças para influencers. É um dois em um.
Se antigamente os miúdos, assim que tinham força para pegar numa enxada, lá iam para o campo trabalhar, hoje em dia começam ainda mais cedo. Ainda estão dentro da barriga da mãe e já estão a trabalhar para a casa. É um outro tipo de enxada.
Na reportagem, os influencers também tiveram azar, porque foram logo meter lá uns psicólogos e investigadores a dar opinião sobre que a utilização das crianças neste "negócio" pode não ser muito positiva para as crianças. É jogo sujo vir com ciência quando se está a falar de ganhar dinheiro a vender a imagem dos filhos.
Ainda por cima, os mesmos psicólogos, disseram que os influencers são uns narcisistas. Olha, por esta não estava nada à espera... Pessoas que vendem o "Eu", a imagem e a ilusão de que os outros podem ser igualmente bons se forem o mais parecido possível com o "Eu". Nunca pensei que fossem narcisistas.
A parte final da reportagem da SIC com a Bárbara Corby (que não fazia a mínima ideia quem era e continuo sem saber muito bem) foi a minha favorita. Quando é feita a pergunta chave de toda aquela reportagem:
Jornalista: E se o seu filho disser "Mãe, eu não queria ter estado nas redes sociais desde pequenino"?
Bárbara Corby: Eu vou dizer "Meu filho, lembraste daquela escola que tu andaste e gostaste muito e foste bem educado, as viagens que fizeste, o conforto que tiveste, tudo isto foi pago com o trabalho da mãe, portanto...".
Se fosse preciso um resumo rápido do que é ser narcisista, aqui está. O filho acaba por ser apenas mais um acessório para ganhar dinheiro. Caiu na esparrela da pergunta.
Muitas pessoas gostam de dizer mal dos influencers digitais, por acharem quem são supérfluos e vivem das aparências. É possível que muitos o sejam e também tenho um pouco esse preconceito relativamente a eles, mas ao mesmo tempo admiro-os bastante. Sem qualquer ironia. Quem consegue ganhar a vida, porque, de alguma forma, influenciou outros a seguir as suas palavras/acções merece todo o meu reconhecimento.
Não deve ser nada fácil, partir do nada e conseguir criar a sua própria Igreja Universal do Influencer Digital. Se a Maria Influencer disse que determinada coisa é boa, então é porque é mesmo boa. E ai da invejosa que diga o contrário, leva logo com a tropa de seguidoras em cima que se lixa.
Se vocês estivessem na rua e uma pessoa qualquer dissesse que deviam comprar determinada coisa, vocês diriam para essa pessoa meter-se na sua vida. Mas quando é um influencer parece que há um chamamento mágico. Alguém que consegue criar este tipo de reacções simplesmente por colocar vídeos ou fotos na Internet é algo admirável e digno de reconhecimento.