Prognósticos das Eleições Presidenciais 2011
Eu sou a favor do "prognósticos só no fim do jogo", como tal esta parece-me a melhor altura para fazer os meus prognósticos (mandar uns bitaites) acerca das eleições presidenciais após estas terem terminado.
O grande vencedor desta eleição foi a abstenção podendo-se concluir que o grande derrotado foi o país. No entanto, uma coisa boa que se pode aprender com os políticos é que muitos conseguem ver o copo meio cheio na altura da derrota.
Defensor Moura deu-se como derrotado, porque sempre afirmou que a sua candidatura era anti-Cavaco. No entanto, disse que a sua campanha serviu para fazer "estalar o verniz" de Cavaco Silva e por isso tinha sido positiva. Aproveitou para dizer por palavras um pouco mais leves que Cavaco Silva é um nojo e o que vulgarmente se chama de um grande filho-da-mãe, recusando-se a felicitar o vencedor. Mais tarde, Cavaco viria a dar-lhe razão.
José Manuel Coelho também se mostrou triste por Cavaco Silva ter sido reeleito à 1ª volta, mas sendo o único candidato anti-sistema valorizou (e bem) os seus 4.5%. Com sorte, pode ser que daqui a uns tempos vejamos José Manuel Coelho como deputado a mandar bojardas na Assembleia da República. Pode ser que espevite um bocado o sistema.
Francisco Lopes, tal como os restantes oponentes de Cavaco, não gostou que Cavaco Silva tivesse ganho. Também teve menos votos que Jerónimo de Sousa à 5 anos, mas a vantagem de ser comunista numas eleições é que o PCP nunca perde, nem que seja por "manter o seu eleitorado" (apesar de não saber bem o que isso significa, presumo que seja uma forma de aferirem a taxa de mortalidade dos velhos comunistas).
Fernando Nobre uns dias antes das eleições dizia "Dêem-me um tiro na cabeça porque sem um tiro na cabeça eu vou para Belém", mas depois no final referiu que ele é que tinha sido o grande vencedor com uma candidatura independente histórica. Confirma-se mais uma vez que quando Fernando Nobre discursa o sangue deixa-lhe de fluir para a cabeça e diz coisas estapafúrdias. Ainda nas eleições anteriores, Manuel Alegre como independente e contra Cavaco Silva, Mário Soares, Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa (basicamente os jokers todos) conseguiu uma percentagem maior do que Fernando Nobre. Comparada com essa candidatura, a candidatura de Fernando Nobre (contando com o apoio disfarçado dos Socialistas "anti-Alegre"), apesar de importante para manter aberto o espaço dos independentes, não me parece assim tão histórica.
Manuel Alegre estaria à espera que os votos de à 5 anos se mantivessem e mais alguns se juntassem. Enganou-se redondamente e, por isso, não tinha por onde pegar, sendo o único que não conseguiu arranjar algo de positivo para tirar das eleições e salvar-se um pouco. José Sócrates, por sua vez, deve ter ficado contente por, em princípio, ter despachado o poeta Alegre de vez.
Finalmente, Cavaco Silva. Cavaco Silva mantém-se como Presidente da República e ficou todo feliz por ter sido eleito com o menor número de votos de sempre. Apesar de ter sido eleito à 1ª volta, mais de metade dos portugueses que foram votar (contando com os votos nulos e brancos) não votou em Cavaco, o que indica que menos de 1/4 dos putativos eleitores portugueses votou no senhor Silva. Viva o presidente de todos os portugueses! Para Cavaco Silva a vitória foi ainda maior, porque teve a oportunidade de falar em último lugar e libertar toda a raiva acumulada ao longo da campanha eleitoral sem que os outros já pudessem voltar a falar. Fez dois discursos virados para o passado e cheios de ressentimento, dividindo os portugueses nos bons (os que votaram neles) e os maus (os que votaram nos outros). Viva o presidente de todos os portugueses!
Nota 1: Pedro Passos Coelho teve o discurso mais sério e racional da noite eleitoral.
Nota 2: Engraçado o problema dos Cartões do Cidadão.