No início desta semana, num despacho emitido pelo primeiro-ministro António Costa, ficou definido que tinham direito a fazer parte do grupo prioritário titulares de órgãos de soberania, deputados e funcionários da Assembleia. Na lista estão ainda incluídos a Provedora de Justiça, os membros do Conselho de Estado, a magistratura do Ministério Público, os membros dos órgãos próprios das Regiões Autónomas e os presidentes de Câmara, enquanto responsáveis principais da Protecção Civil.
Imaginem só que, por exemplo, um funcionário ou um deputado da Assembleia da República era atropelado. Lá ia o nosso Estado de Direito para o galheiro. Não podemos permitir isso.
Entretanto a Assembleia da República já definiu a lista dos deputados que serão vacinados. Depois de vários deputados recusarem, a lista ficou restringida a 38 deputados (Ferro Rodrigues, PS 26, PSD 6, PCP 2, CDS 1, PEV 1 e Joacine Katar Moreira). No caso da Joacine, claramente que ela só quer ser um dos deputados que irá receber a vacina contra a COVID-19, não por estar a usufruir de um privilégio, mas apenas porque estará em representação de todos aqueles que, devido ao machismo e racismo sistémico que impera no país, não estão a ser vacinados. Jamais Joacine Katar Moreira quereria usufruir de um privilégio por livre e espontânea vontade.
Depois têm aparecido também algumas situações de pessoas em posições de decisão que têm aproveitado o seu cargo para colocarem a si e ao seu círculo mais próximo nos grupos prioritários de vacinação. Parece que o principal grupo prioritário a receber a vacina passou a ser o chico-esperto.
A notícia mais recente é a dos funcionários da pastelaria ao lado da delegação regional do Norte do INEM, no Porto, a serem vacinados. Muita gente tem-se mostrado indignada com esta situação, mas não me parece correcto. Então depois como é que os funcionários do INEM que estão no escritório, poderiam cumprir o seu trabalho fundamental sem terem pessoas para lhes servirem um cimbalino e um croissant misto nas suas pausas? Quem nunca deu de gorjeta vacinas que atire a primeira pedra!
O próprio coordenador da vacinação contra a COVID-19 até já veio afirmar que todos estes casos só são imorais para quem votou no André Ventura. Como é óbvio! Só é curioso o Ministério da Saúde ter emitido um comunicado em que considerava inaceitável a utilização indevida das vacinas e lembrou que os erros nessa administração podem constituir conduta disciplinar e ser punível criminalmente. Talvez a Marta Temido tenha votado no André Ventura também, não sei.
Da minha parte, eu acho que os ursos de peluche azuis e suas famílias deviam ser considerados nos grupos prioritários para tomar a vacina. Porquê? Não sei bem. Mas se temos um Plano de Vacinação que de "plano" parece ter pouco, uma falta de noção do que "definir prioridades" significa, constantes pedidos de inserir o seu grupo específico à frente dos outros, uma espécie de síndrome da pessoa que se está a afogar no mar e que não se importa de afogar o próximo para se salvar, então não vejo nenhum motivo para os ursos de peluche azuis, uma espécie em vias de extinção, não serem já os próximos a serem vacinados.
O parlamento aprovou ontem a lei para a despenalização da morte medicamente assistida.
Eu acho muito bem que a morte assistida seja legalizada, já era tempo. E digo mais, deveria ser também profissionalizada. Após passar a pandemia, a sua realização deveria ser dentro de pavilhões, com bilhete pago, com direito a claques e com transmissão televisiva por parte da RTP. Todos deveríamos ter o direito a assistir e não só os médicos.
Falando agora um pouco a sério, não deixa de ser estranho como algumas pessoas pensam que a partir de agora quem vai para um hospital é como se fosse para um matadouro. Meus caros, não é assim que funciona. Eles não vão matar as pessoas a torto e a direito só porque sim. Entre várias coisas, as pessoas têm de demonstrar um pequeno pormenor de extrema importância, vontade que tal seja feito.
Portanto, se algum dia estiveres num estado terminal, a sofrer dores inimagináveis, podes muito bem continuar a sofrer ou a "não viver" para o resto da tua vida. Ninguém te vai impedir. Agora, não me parece justo obrigar o mesmo a quem apenas quer que o resto da sua vida seja um bocado mais curto.
Nos últimos dias surgiu a notícia que a China começou a fazer uma triagem retal a vários contactos de risco e a viajantes vindos do estrangeiro.
Tendo em conta a propagação do coronavírus, é bastante provável que já nos próximos meses essa técnica venha também a ser adoptada em Portugal.
Ora, assim de repente, estas parecem-me algumas das consequências:
Muita gente a fugir com o cu à zaragatoa, havendo possivelmente mais infectados por detectar;
Simultaneamente, as pessoas tomam mais cuidado para não se infectarem e terem de fazer o teste;
Diana Cu de Melancia devia ser a porta-voz da campanha de sensibilização em Portugal;
Os jogadores de futebol nunca mais se vão poder sentar;
Comunidade gay vai ser a mais bem testada;
Mais conflitos nos relacionamentos, "Ah, não queres fazer? Mas quando foi para fazer o teste não te queixaste!";
Vamos ter centros de testes Drive Thru em que a pessoa mete o cu de fora à janela do carro;
"Vá, não chora!... Aguenta... Está todo lá dentro!" poderá passar a ouvir-se em contexto médico.
Deixo aqui também a minha sugestão que pessoas que não cumpram os confinamentos e directivas da DGS sejam assinaladas. Não para lhes serem negados as prestações a serviços de saúde. Nada disso. Simplesmente para quando for para serem sujeitos a testes à COVID-19, seja esta técnica anal a utilizada. Mas com um piaçaba.
Faz quase um ano que estamos a utilizar máscaras cirúrgicas ou máscaras comunitárias certificadas. Dizem-nos que funcionam bem e tal para evitar transmitir o SARS-CoV-2 aos outros. Tudo perfeito. Agora, com as novas estirpes, já começa a aparecer a ideia que vamos ter de passar a andar com os respiradores FFP2.
Então as novas mutações do coronabicho tornaram as gotículas que expelimos mais pequenas e ninguém disse nada? É isso? Ficou um bichinho anão, mais perigoso, que passa mais facilmente pelos buraquinhos da máscara? Ou antes era tudo treta? Vá lá, médicos e cientistas, decidam-se.
É que com estas mudanças de direcção, depois não se podem admirar de virem para aí os negacionistas dizer coisas.
O Adolfo Mesquita Nunes devia ter esperado mais uns dias até dizer que vai pedir um Congresso Nacional para marcar eleições antecipadas no CDS-PP. É que um gajo chamado Adolfo anunciar que vai avançar para uma candidatura à liderança do CDS logo no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto... Épá, não sei. Não me parece um bom timing.
Com o confinamento, aqui o urso tem pouco com que se distrair, fica aborrecido e depois passam-me umas dúvidas estranhas pela cabeça. Em concreto, sobre comprimidos vaginais.
Ora, sendo um comprimido, será que também se despeja um copo de água para ajudar a empurrar para dentro? É que os comprimidos tomam-se sempre com água.
Ou é apenas um supositório que entra pelo outro lado? Mas se é isso, não deveria chamar-se antes supositório vaginal?
São este tipo de questões que me passam pela cabeça e tive de compartilhar estas em específico. Porquê? Não sei. Mas pode ser que alguém saiba responder. Peço desculpa.
Ontem tivemos então mais umas eleições presidenciais, sem grande história e com pouca imprevisibilidade. Novamente o grande vencedor da noite foi a abstenção, apesar de não ter sido tão grande como se esperava. Ainda assim, não deixa de ser curioso que quando é para ficar em casa, os Portugueses vão para a rua e quando podem sair para ir votar, os Portugueses ficam em casa. Vá-se lá perceber.
Aqui ficam as minhas impressões sobre os vários candidatos que ontem discutiram estas eleições. Agora sim, a opinião que interessa.
Marcelo Rebelo de Sousa - Parece que ganhou. É verdade, quem diria? E com cerca de 60%. Nem vai haver segunda volta nem nada. E pelas declarações do CDS, aparentemente foi graças a eles que ganhou. Marcelo levou esta eleição com a leveza que o caracteriza, já com a noção absoluta que iria ganhar. Foi aos debates fazer a sua obrigação, nem sequer se dignou a fazer vídeos para o tempo de antena e, apenas para o final da campanha, decidiu fazer efectivamente alguma campanha, porque deve ter começado a ver que era melhor começar a dar alguns sinais de vida antes que a coisa corresse um bocado mal e fosse obrigado a ir a uma segunda volta. Marcelo tinha ido votar a Celorico de Basto, mas voltou para Lisboa para fazer o discurso de vitória. Ao chegar a casa, disse aos jornalistas para esperarem um bocadinho, porque ia comprar qualquer coisa para comer no take-away. Fez bem. Toda a gente sabe que "tu não és tu, quando tens fome". Depois, ao final da noite, lá fez a viagem de Cascais até à Faculdade de Direito para fazer o seu discurso. Foi a viagem mais longa alguma vez vista, sem trânsito, nesse percurso. Quase demorava mais do que a vinda desde Celorico. Parecia até que estava a fazer de taxistas de uns turistas no carro e a dar-lhes a tour por Lisboa. Já o discurso de vitória, não foi assim tão vitorioso como se esperaria, mas foi o adequado aos tempos em que vivemos.
Ana Gomes - Conseguiu o seu grande objectivo, ficar em 2º lugar. Com cerca de mais de 45000 votos no total do que André Ventura, Ana Gomes bem pode agradecer ao eleitores do distrito do Porto que lhe deram mais 50000 votos que a André Ventura. Não fossem eles e isto tinha corrido pior. Acabou a noite a queixar-se da falta de apoio do PS. Nunca é bom sinal quando se atira as culpas dos insucessos próprios para cima dos outros.
André Ventura - Vai demitir-se! Iei. Mas vai recandidatar-se! Ohhh. Andou a noite toda ali taco a taco com Ana Gomes na luta pelo segundo lugar, perdendo com um golo nos últimos minutos. Mesmo assim, pelo discurso de Rui Rio a lamber as botas Dr Martens e do discurso do próprio foram os grandes vencedores da noite. André Ventura considerou-se como o enviado de Deus. Se por um lado é compreensível, porque, quando toda uma campanha eleitoral é centrada na sua pessoa, é natural que pareça omnipresente. Por outro lado, ter apenas menos de 12% dos votos não me parece muito omnipotente. E muito menos omnisciente, porque assim saberia que ia ficar atrás de Ana Gomes. Um dos maiores pontos positivos de André Ventura não ter sido eleito Presidente da República é a poupança em segurança que se vai fazer. Se ele já anda com vários agora, imaginem a quantidade de seguranças que teria se fosse eleito. Era mais um rombo no orçamento.
João Ferreira - Quando João Ferreira se casou, o padre perguntou-lhe aquela lenga-lenga toda do prometer amar e respeitar a esposa e etc e tal. João Ferreira respondeu que jurava defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa. Nestas eleições, conseguiu basicamente segurar o eleitorado comunista. É o possível agora.
Marisa Matias - Ir lutar com um inimigo, no terreno e nas condições do inimigo, ou se é muito bom ou então é meio caminho andado para perder. Para Marisa Matias foi este o segundo caso. Marisa Matias teve uma campanha fraca, que raramente se conseguiu diferenciar de Ana Gomes e, como tal, tornou-se uma candidatura redundante.
Tiago Mayan Gonçalves - Inicialmente previa-se que fosse ter uma campanha completamente desastrosa, mas foi sempre em crescendo. Acabou a noite todo suado, provavelmente por ter andado a correr atrás do Tino de Rans até o conseguir mesmo sobre a meta. Não tendo feito um resultado escandaloso, também é estranho vir cantar vitória por ser o último dos candidatos com apoio de partidos com assento parlamentar. É poucochinho.
Vitorino Silva - Sendo constantemente desprezado pelas principais canais generalistas, o grande Tino fez a campanha certa. Foi para casa, doou sangue, conseguiu uma máquina de ressonância magnética para o hospital de Penafiel, surpreendeu nos debates. A única coisa que pedia em troca era ter mais 1 voto que há cinco anos. Infelizmente, não o conseguiu. Sinto que falhámos enquanto povo, quando não conseguimos sequer dar 5% a um bom homem que luta pelos seus sonhos. É verdade também que isto não é de estranhar. Se há algo que o tuga normalmente não gosta é de ver um dos seus a ter destaque. Olhar para alguém que podia ser o nosso vizinho, o nosso tio, o primo da aldeia, a tentar chegar a algum lado pelo seu esforço, faz-nos sentir inferiores por não conseguirmos fazer o mesmo e isso é inaceitável. A única parte positiva é que se conseguir manter a votação que teve no Porto, daqui a dois anos, nas legislativas, talvez tenhamos Tino de Rans na Assembleia da República. Era importante ter a voz de alguém lá que tivesse a noção de alguns dos problemas que acontecem acima do Tejo. Talvez assim percebam o porquê de outras forças mais ocultas estarem a crescer.
Em honra ao Tino, quero terminar este texto com uma parábola do que tenho assistido nos últimos anos e, em particular, após a noite de ontem. Parece haver muitas pessoas que vêem uma mancha de humidade a crescer constantemente numa divisão da sua casa e simplesmente deixam de ir a essa divisão. Se não virem as causas do problema, então é sinal que não há problema. Só se queixam que começa a vir um cheiro a mofo, mas depois ficam surpreendidas por essa mancha ir ficando cheia de bolor, até ficar completamente podre e se ir alastrando cada vez mais. Se não se arranjar o que está a causar a humidade, pode-se fazer muita coisa, mas a humidade vai voltar sempre a aparecer.
Hoje é o dia de reflexão, dia fundamental em qualquer eleição que permite a todos os cidadãos decidirem em consciência e à vontade para o dia de eleição.
Milhares de eleitores que tiveram de proceder ao voto antecipado viram-se expurgados deste dia tão precioso na nossa democracia. Digo até que todos esses votos deveriam ser considerados nulos. Parece-me claro que todos esses votos ficaram condicionados por não terem direito ao dia de reflexão. Todos eles estavam a votar e ao mesmo tempo a receber informação sobre as campanhas políticas. Nenhum cidadão consegue votar em consciência sem um dia para poder digerir tudo o que leu, ouviu e viu nas últimas semanas. Hoje sim, é o dia em que todas as pessoas decidem o seu voto.
Curiosamente, hoje até está um excelente dia para isso. Chuva e confinamento. Vão ser ali 24 horas a reflectir com toda a força. Do meu lado, como não posso fazer campanha, só me resta desejar a todos que pensem bem durante o dia de hoje e, amanhã, quando colocarem a cruzinha no boletim de voto, não se metam em aventuras e façam-no com tino.
No início da pandemia, toda a gente falava da nossa incrível capacidade de combate à COVID-19. O tão aclamado "milagre português". Agora, com os números de infectados e mortos a subirem, toda a gente pergunta onde é que está o milagre.
Não se enganem, nós continuamos a ter um milagre. O novo milagre português está aí, só que é diferente. Desta vez temos o milagre da transformação de pulmões em ventiladores e da multiplicação dos caixões. Sabem, os milagres não são sempre todos iguais.