Muitos foram aqueles que reivindicaram o estabelecimento de uma trilogia Underground, outros houve que pediram um merecido regresso às origens, mas no final, o resultado revelou-se um jogo tão susceptível de agradar a todos como de decepcionar qualquer um que tenha elevado demasiado a expectativa.
Need For Speed: Most Wanted, o nono capítulo de uma das raras sobreviventes de entre as séries de videojogos de condução automóvel nascidas no século passado, revela-se uma amálgama de conceitos que marcaram os três últimos títulos da franchise da Electronic Arts.
Pegue-se no tuning, corridas urbanas e liberdade disponíveis em Underground 2 e adicionem-se-lhe as perseguições policiais de Hot Pursuit 2. Por fim, seleccione-se um pouco do catálogo de veículos de cada jogo e, com algumas novidades pelo meio, obtém-se Need For Speed: Most Wanted.
Embora esta pareça à partida uma fórmula milagrosa, capaz de levar todos os seguidores da série a elegerem NFSMW como o melhor título de sempre, tal não se tem verificado na prática. Não quero com isto dizer que Most Wanted é um fracasso perante aqueles que o esperavam tão ansiosamente, muito longe disso, mas a verdade é que o produto lançado deixa algo a desejar, principalmente a nível técnico. Encontrando-se agora na sua versão 1.3, NFSMW é por vezes capaz de nos presentear com um singelo "crash to desktop", por vezes acompanhado por um erro de C++, o que depois de finalizar com sucesso uma fuga à polícia de duração superior a meia hora se pode tornar extremamente frustrante, podendo inclusivamente levar-nos a ir jogar outra coisa qualquer. Mas no final de contas, isso raramente chega a acontecer, tal é o vício que NFSMW é capaz de proporcionar, algo a que o pessoal da Electronic Arts nos tem habituado.
Bugs à parte, NFSMW dispõe, à imagem dos seus antecessores, uma jogabilidade sólida e intuitiva, bem como gráficos capazes de puxar bem pelas capacidades do sistema para mostrar todo o seu esplendor. O quase fotorealismo apresentado pelos modelos dos bólides, associado a uma fenomenal captura sonora a nível dos motores destes, contribui para afinar o equilíbrio entre simulação e arcada num jogo que peca por apresentar uma inteligência artificial algo desequilibrada. Os adversários possuem um comportamento que oscila entre a atrapalhação de quem ainda anda a tirar a carta mas quer ultrapassar largamente os limites de velocidade e a condução quase perfeita de um veterano das pistas de F1. O mesmo se pode referir quanto às forças policiais, as quais são capazes de acompanhar a mais veloz das máquinas de estrada com o mais simples carro patrulha ou enveredar por uma missão suicida de abalroamento frontal do carro do jogador.
No que diz respeito ao ambiente sonoro, para além das sirenes que povoam os altifalantes durante uma perseguição, é ainda possível ouvir trechos de música dinâmica da autoria de Paul Lindford (compositor da banda sonora de filmes como "Gone In Sixty Seconds", "Enemy Of The State", "Bad Boys 2"), brilhantemente integrada de forma a elevar os níveis de adrenalina do jogador nos momentos de maior tensão. Ainda ao nível da banda sonora, a EATRAX responsabilizou-se por incluir em NFSMW uma lista de músicas capaz de alcançar (quase) todos os ouvidos, da qual se podem destacar nomes como The Prodigy, Static-X, Disturbed, Mastodon, Avenged Sevenfold ou Jamiroquai.
Não poderia finalizar esta crítica sem fazer referência ao enredo que envolve o modo carreira do jogo, pois está claro. Para variar um pouco, o jogador surge como o "new guy in town", adquirindo imediatamente um curso intensivo acerca do modo de funcionamento das ruas da cidade de Rockport. Estas são dominadas pelos mais procurados street racers (os membros da Blacklist) e constantemente vigiadas pelas forças da lei, as quais têm no Sgt. Cross o seu comandante máximo. Não fossem estas razões suficientes para o jogador se entreter, na primeira corrida contra aquele que virá a tornar-se o seu arqui-inimigo, este sabota-lhe o carro e dele se apodera, deixando o personagem jogável abandonado à sua sorte. É aqui que entra a ajuda da misteriosa Mia Townsend, papel interpretado pela modelo e actriz Josie Maran, a qual revelar-se-á fulcral ao longo do jogo.
É certo que o argumento não é digno sequer de um "Fast'N'Furious" (o qual já se sabe não ser, de longe, fenomenal), mas estamos a falar de um jogo, onde este não é o aspecto principal, até porque o desempenho dos actores está acima do medíocre e é sempre bom ver Josie Maran a exibir as suas fatiotas.
Concluindo, Need For Speed: Most Wanted pode ter vários defeitos, mas é talvez a melhor proposta do cabaz de Natal deste ano ao nível de videojogos de condução automóvel, a não ser que tenham uma Xbox360 e possam optar por Project Gotham Racing 3. Se bem que os aspectos focalizados sejam diferentes, PGR3 será aquele que mais se aproxima da simulação automóvel.
Quero aproveitar o tema para divulgar o blog de alguém que admiro pelo seu trabalho e postura ao nível da imprensa especializada neste tema. Falo do actual director da revista Mega Score, Nelson Calvinho.
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